10/03/2022

The Batman - crítica

 

The Batman é o filme do Batman que a década atual precisava.


Finalmente o tão aguardado The Batman fez sua estreia após muita expectativa e especulação. E a nova versão do morcegão dirigido por Matt Reeves cumpriu o que prometeu e vem sendo aclamado, merecidamente, por público e crítica.

É sabido que as adaptações de Batman para cinema sempre foram complicadas principalmente em termos de roteiro. Os primeiros filmes, embora hoje sejam considerados icônicos e queridos (graças aos atores e atrizes interpretando determinados personagens) temos que deixar a memória emocional de lado e admitir que possuem roteiros não muito bons. Ainda que neles tenhamos algumas coisas marcantes (como a sexy Catwoman de Michelle Pfeiffer e o incrível Coringa de Jack Nicholson, por exemplo) os filmes em si não envelheceram bem e acabam sendo caricatos demais (nunca esqueceremos as armaduras de mamilos polêmicos de Batman e Robin, rs). Ainda que, para a época seja condizente e cumpra seu papel.
A situação de qualidade dos filmes do Batman só foi melhorar mesmo com a trilogia de Nolan, principalmente por Batman - O Cavaleiro das Trevas que, graças a atuação de Christian Bale como Batman e Heath Ledger como Coringa, é, sem dúvidas, o melhor filme do herói.

Mas, diferente de qualquer outro filme do homem morcego, o novo Batman não é um filme de super-heroi. Ele é um filme de suspense investigativo que, porém, traz um personagem icônico no melhor estilo justiceiro.. E em vez dele enfrentar vilões megalomaníacos, ameaças de outro mundo e todas as firulas grandiosas tão presentes em filmes de heróis, The Batman tem um universo mais intimista, com uma aproximação maior a realidade e na qual o Batman precisa enfrentar os inimigos que existem em Gotham e que ganharam poder graças aos problemas político-sociais que envenenam seus cidadãos.




Nesta versão bastante elogiada em sua similaridade com os quadrinhos, Bruce Wayne, interpretado por Robert Pattinson, é um jovem milionário antissocial, que cresceu como órfão e foi criado pelo seu mordomo Alfred. O pai de Bruce, Thomas, foi assassinado décadas antes, quando disputava as eleições para prefeito de Gotham. Durante a campanha, Thomas anunciou um fundo, chamado Renovação, para ajudar os órfãos e carentes, mas ele é morto e a máfia usa o fundo para se financiar e crescer. De lá para cá o crime cresce exponencialmente. Mesmo com a chegada de Batman, como vigilante, a onda de violência parece apenas aumentar. Até que um assassino, que tem caçado autoridades, deixa charadas para Batman solucionar e descobrir quem será a próxima vítima.

Falar mais sobre o enredo seria entregar pontos importantes então vale a experiência de ir saboreando o filme a medida que ele transcorre. Não sou uma leitora dos quadrinhos mas, pelo que pude apurar, este novo Batman é o que mais aproximado do personagem nos quadrinhos. O Vigilante de Gotham, violento e vingador, imerso em suas dores surge como um indivíduo jovem e perturbado, que ainda não conseguiu lidar com seus traumas. Vemos também uma Gotham ainda mais decadente, imersa em violência, corrupção, absurdo e abandono tanto da cidade como naqueles mais necessitados que tentam sobreviver nela.

Aliás, a própria Gotham funciona como um cenário vivo, quase um personagem á parte no filme. Assim como a Gotham retratada em Coringa, ela é personificada pelos seus verdadeiros cidadãos, e seus problemas sociais é uma amostra da realidade que vemos em todos os lugares do mundo. A Gotham em The Batman tem um toque mais realista mesclado a fotografia e mixagem de som nos apresentam uma cidade sombria e decadente a todo momento, independente do clima.E as chuvas na escuridão criam uma atmosfera sufocante, ao ponto de você realmente sentir-se dentro dela.



Calando a boca de todos aqueles que criticaram e tripudiaram sua escolha para o papel, Robert Pattinson mais uma vez mostra ser um excelente ator e entrega um dos melhores Batman já mostrados - sua interpretação é ótima para a ambientação desse novo universo de Gotham, assim como Christian Bale o foi para a Gotham das trilogia do Cavaleiro das Trevas.
Em The Batman, temos Pattinson nos entregando um Bruce Wayne mais jovem, extremamente perturbado, introspectivo e agressivo. Um Batman que ainda não é o Batman  totalmente. Sua postura agressiva e implacável perante os inimigos o tornam violento, incontrolável e ás vezes parece estar no limite da própria sanidade dada a uma certa inexperiência e autocontrole.. Se o diretor queria entregar o Batman mais sombrio e amedrontador dos cinemas, Pattinson conseguiu.
E isso é delicioso de ver.

O filme é do Batman, mas quem brilha mesmo de forma perturbadora é o grande vilão, Charada. Longe da grotesca versão caricata interpretada por Jim Carrey em Batman Eternamente, aqui temos um Charada digno. Paul Dano entrega uma atuação brilhante, transformando o Charada no genial vilão que faz uso de sua inteligência para causar o caos na cidade, pânico na alta sociedade e até mesmo consegue enganar o Batman.
Um ponto que vale mencionar é a caracterização. O Charada nos é apresentado com uma estética e uma ousadia de confrontar as autoridades e aterrorizar os civis, propondo enigmas a serem identificados tal qual um dos mais famosos e emblemáticos seriais killers da história: o Assassino do Zodíaco .Outro personagem que ficou incrivelmente bem caracterizado é o Pinguim. Collin Farrel está realmente irreconhecível no papel e a maquiagem é digna de nota, pode facilmente concorrer ao Oscar. Esperamos vê-lo dominando o submundo de Gotham em uma futura possível sequência.

Por fim, não podemos deixar de mencionar a Mulher-Gato de Zoe Kravitz. A personagem nesse universo do filme caiu como uma luva para a atriz, que desenvolveu uma Selina Kyle sensível e hipnotizante, com personalidade e uma jornada de justiça e vingança. Além do que, esteticamente ela ficou muito parecida com a Selina dos quadrinhos.. Zoe pode não estar tão sensual como a Mulher-Gato icônica de Michelle Pfeiffer, mas Zoe trouxe uma profundidade excelente para a personagem.
Mesmo os personagens mais coadjuvantes também tem o seu brilho. O detetive Gordon de Jofrrey Write fez um bom trabalho e Andy Serkis deu sensibilidade ao querido Alfred.
Todos tem seu brilho no filme e em nenhum momento se tornam caricatos.



As cenas de ação são um modelo mais realista e violento, mas sem exageros. A sonorização nas sequências de tiros, socos e até mesmo de manuseio de objetos simples (como Charada usando fitas adesivas em suas vítimas) é bem realista. E os momentos de luta são rápidos, crus, em um jogo de luz e sombras onde a imersão causada pelo som produz algo que nunca haviamos visto nos filmes de super heroi mais populares antes (pelo menos que eu me lembre). Mesmo quando há a trilha sonora, a música tema do Batman tocando daquela forma perturbadora e densa cria uma sensação de desconforto.. É impossível não se sentir intimidado quando Batman surge da escuridão com a música parecendo emergir junto com ele e então a forma violenta como ele espanca descontroladamente os criminosos.

Aliás, o filme, embora não tenha foco principal na ação, ainda assim nos brinda com cenas ótimas do gênero, que se mostram muito melhores do que as cenas de ações de muitos filmes de heroi blockbusters. Destaque para a incrível de perseguição de carro entre Batman e Pinguim. Quem não gosta de ação vai ficar impressionado com a sequência impecável de efeitos especiais realistas. Quem gosta, vai adorar. O ritmo frenético e selvagem lembrou vagamente Mad Max Fury Road mas ambientado em uma Gotham escura, em avenidas movimentadas com luzes de faróis e fogo. É como se o batmóvel fosse possuído pelo espírito de Christine (do clássico de Stephen King).
Além desta, há outras várias cenas inebriantes que realmente agradam por não serem repletas de firulas de efeitos especiais grandiosos: o filme é mais "pé no chão" do que quase toda a leva de filmes de super herois. Inclusive os discursos sociais causam aquela chacoalhada reflexiva tal como Coringa fez. E isso é algo válido e esperado nas produções atuais.

The Batman é um filme incrível, realmente bom. Quem gosta e conhece o personagem vai adorar, quem não conhece muito o personagem mas aprecia filmes de suspense investigativo com boa história, vai gostar. É um filme com foco no roteiro, sonorização e elenco e cumpre muito bem tudo o que foi prometido desde o seu anúncio e primeiras informações reveladas. Falar mais sobre seria revelar informações importantes e o melhor do filme é a forma como todo ele pode te prender e surpreender em diversos aspectos. Afinal, esse Batman é, como ele mesmo diz: - Eu sou a Vingança.
Veja e não irá se arrepender.



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