O legado do Pantera Negra de Chadwick Boseman

 

    Eu realmente não sabia se deveria ou não fazer uma postagem no blog sobre isso. Porque, para mim, a partida de Chadwick Boseman foi tão súbita e desesperadora que continuo querendo acreditar que não é real.
A morte do nosso eterno Pantera Negra, que ocorreu no dia 29/08 pegou a todos de surpresa. Porque ninguém esperava, ninguém sequer sabia que o ator estava doente. Ninguém poderia conceber a possibilidade de alguém tão incrível como Chadwick partir deste mundo assim, sem qualquer aviso prévio.

Chadwick Boseman morreu em consequência de um câncer de cólon, que ele já tratava há quatro anos. Ninguém sabia: nem a mídia, nem os colegas de trabalho, nem mesmo os amigos próximos. Meses atrás, uma foto do ator indo ao hospital em uma cadeira de rodas e posteriormente um vídeo no qual ele conversa com os fãs, todos ficaram preocupados devido á assustadora magreza que Chadwick estava. Mas todos acreditavam, pois não havia menção alguma que ele estivesse doente, que o ator pudesse estar extremamente magro devido a algum filme (sabemos como atores podem se transformar se o papel assim exige, como Joaquin Phoenix em Coringa ou Jared Letto em Clube de Compras Dallas por exemplo).
Não imaginávamos que sua magreza era devido a uma doença com a qual ele lutava em segredo. E ao sabermos disso ao mesmo tempo que a morte de Chadwick era anunciada, foi como se todos sentissem choque, tristeza e incredualidade.

Desde a morte de Michael Jackson e Allan Rickman, eu não chorava tanto pela morte de uma celebridade que eu tanto gostava e admirava. E talvez por isso, pra mim, foi dificil conseguir fazer uma postagem no blog sobre.
 Eu não sou uma entendida de quadrinhos, então acabei por realmente conhecer o Pantera Negra através do Chadwick. E assim como eu, uma legião de pessoas  (entre adultos, jovens, velhos e crianças) conheceram o super-heroi através de sua presença inicialmente em Captain America - Civil War e posteriormente no filme solo Black Panther.
Logo em sua primeira cena em Vingadores, o Pantera de Chadwick captou o interesse dos fãs e em Pantera Negra, conhecemos muito mais do que um herói e um rei: conhecemos ali um homem admirável, que viria a ser exatamente aquilo tudo que seu personagem representava.

O filme do Pantera Negra foi um sucesso absoluto, rapidamente se tornou um fenômeno mundial, aclamado pelo público e pela crítica (e fazendo racista pirar rs). Foi o filme de super-herói a levar mais indicações ao Oscar: 7 no total. Levou 3 (Melhor Figurino, Melhor Design de Produção e Melhor Trilha Sonora). Embora não tenha ganho, foi o primeiro filme de super-herói a ser indicado na categoria Melhor Filme.

Mas Pantera Negra foi muito mais do que isso. Pantera Negra foi o filme épico que a representatividade negra merecia. Um super herói negro que nasceu príncipe e se tornou rei de uma nação rica, avançada e poderosa. 
Pela primeira vez, os jovens e adultos negros viram no cinema um personagem representando todo seu povo de uma forma poderosa, orgulhosa, digna. Pantera Negra abriu os portões de Hollywood para a representatividade negra no cinema com uma força nunca antes feita e com a certeza que perpetuou mudanças 

É impossível não ver a força que o filme Pantera Negra causou na comunidade negra. Sendo lançado em um momento importante da luta da representatividade, a produção e seu protagonista sabiam que esse filme faria a diferença. E tendo uma produção composta por quase 100% de profissionais negros, o filme carregava uma aura de mudança.

Havia chegado a hora de o povo negro sentir o mesmo que brancos sentiram ao ver Christopher Reeve, olhos azuis e penteado pega-rapaz, voar pelos céus de Metrópolis como o Super-homem. Havia chegado a hora de Pantera Negra ganhar vida. O jovem ator Chadwick Boseman sabia o que estava ali em jogo. 
 Pantera Negra, o filme, se tornou a maior bilheteria de filmes de super-heróis da história, faturando US$ 1,3 bilhão. O super-homem havia sido superado. “Wakanda forever” passou a fazer mais sentido do que “para o alto e avante”.

Uma das muitas representatividades
 que Chadwick trouxe

Claro que Chadwick, como ator, não se limitava apenas ao Pantera Negra. Em todos os outros filmes em que atuou, o fez de forma incrível e profunda. Principalmente figuras históricas reais como Jackie Robinson em 42, James Brown em Get on Up - A História de James Brown e Thurgood Marshall em Marshall.  Um de seus últimos - Da 5 Bloods dirigido por Spike Lee , já está sendo considerado um dos provavéis filmes a concorrer indicações em grandes prêmios.

Havia a especulação que Chadwick estava sendo cotado para interpretar Yasuke, o primeiro (e único) samurai negro da história.

A notícia da morte do ator logo tomou espaço em todas as mídias. Amigos e colegas de elenco postaram em suas redes sociais em choque e tristeza pelo ocorrido, depoimentos emocionantes da atriz Letitia Whright, Michael B. Jordan, Angela Basset e tantos outros mostraram o quanto Chadwick era querido e admirado por todos aqueles que o conheciam. Que viam nele uma pessoa de coração imenso, um ator talentoso e alguém engajado nas lutas sociais. Chadwick também, mesmo enquanto lutava silenciosamente contra o câncer, fazia visitas em hospitais e motivava crianças que estavam na luta contra a doença também.

Ao redor do mundo, milhões de pessoas homenagearam o ator. Civis, famosos e crianças...todos dedicaram um momento para honrar a memória de Chadwick. Aqui no Brasil, a apresentadora do Jornal Hoje, Maju Coutinho deu a notícia do falecimento de Chadwick, terminando com o emblemático gesto de Wakanda Forever. Tal gesto foi repetido por tantos outros artistas, esportistas e ativistas negros. O campeão de fórmula 1, Lewis Hammilton ao ganhar o pódio na corrida no domingo após o falecimento de Chadwick, subiu em seu carro e fez o mesmo gesto.
Até mesmo o ex-presidente Barack Obama postou em seu twitter, uma foto com Chadwick quando este foi á Casa Branca. Na postagem, elogiou o ator, lamentou sua morte e finalizou com uma frase de tamanho poder: "Um presidente e um príncipe na casa construída por escravos".

O Pantera Negra de Chadwick foi a representação do super-heroi negro que a comunidade negra esperava e merecia ver nos cinemas. Era o super-heroi negro que as crianças negras mereciam e precisavam. Chadwick tinha plena consciência do poder que o filme teria e a mensagem que seu personagem carregaria e se dedicou de corpo e alma para realizar o trabalho. Chadwick escondeu sua doença e sua dor, para vencer o sistema e se tornar eterno.
Ele conseguiu. Se tornou um exemplo admirável de artista, de ativista, de ser humano.

A forma como ele sempre gritava Wakanda Forever!  provocava em todos um sentimento de força e honra. E agora, ao sabermos que durante as filmagens de Pantera Negra e Vingadores (Endgame e Ultimato) além dos demais filmes feitos nesse período, Chadwick já lutava em segredo, com o câncer.
Não foi nem um pouco fácil para ele alternar entre as gravações dos filmes (principalmente como Pantera Negra, que exigia massa muscular e disposição física) entre sessões de quimioterapia e cirurgias.
Mas ele seguia firme e digno. 
Como poderíamos imaginar que a emocionante cena em Avengers - Ultimato quando T'Challa surge na luz do portal aberto acompanhado de seu exército e gritando Imbambe! seria a última vez que o veríamos no cinema...
E essa palavra, que em língua xhosa (idioma falado no Zimbábue) significa "Se manter firme" é falada com tanta força e emoção por Chadwick que agora vemos, não era uma encenação para a cena. Era real. Para ele e para todo o povo negro.

Onde Chadwick estiver agora, ele saberá que foi e será sempre será um ícone, um exemplo para milhões de pessoas. Porque ele não foi apenas um ator incrível. Ele não foi apenas um amigo incrível. Ele foi, acima de tudo, um ser humano incrível. E seu legado jamais será esquecido.

Chadwick Boseman foi um herói e um rei. Do início ao fim.

Rest in power, king.
Wakanda Forever.

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