03/06/2022

Jurassic World Dominion - crítica

 



Um final que prediz um novo começo


Jurassic World Dominion finalmente estreou após tanto tempo de expectativas dos fãs. Com um maciço marketing de divulgação, a vinda do novo filme (vendido, exageradamente, como o "último" da franquia) causou furor entre o público. As primeiras imagens, traillers e prólogos (sim, foram 2) lançados aumentaram a hype para o filme, o que, nos tempos das redes sociais, sabemos bem o que significa.

O filme já era esperado com toda uma carga emocional e eletrizante ,e entrega toda uma carga diferente e reflexiva.

Após os erros de marketing cometidos em Jurassic World Fallen Kingdom, no qual os traillers entregaram cenas que deveriam ter sido mantidas ocultas, aqui os vídeos de divulgação souberam equilibrar bem e dar engajamento para especulações até a chegada do filme. E pela primeira vez, um filme lançou um curta e um prólogo de 10 minutos e 5 minutos, antes do lançamento do filme. Um deles ( Batlle at Big Rock) foi lançado diretamente na internet pouco depois de Fallen Kingdom, se passando poucas horas depois do final deste, com dinossauros atacando um acampamento.

Poucos meses antes do lançamento de Dominion, foi lançado o que seria o "prólogo" do filme, tendo duas cenas: a primeira retratando o mundo dos dinossauros há 65 milhões de anos atrás, apresentando assim o novo grande predador da franquia e o segundo sendo uma sequência excelente da T.Rex atacando um cinema a céu aberto.
Ambas produções se encontram disponíveis na internet (o segundo foi lançado como trailler em sessões IMAX de Velozes e Furiosos nos EUA) e ainda que não sejam cruciais para o entendimento da filme possuem certa importância e merecem serr vistos, principalmente o prólogo, que deveria ter sido inserido também no filme.

Importante mencionar aqui que a série animada Camp Cretaceos (Acampamento Jurássico) da Netflix embora não seja uma obra que agrade muito os fãs, é oficialmente canônico com o universo dos filmes. Então, caso queira saber mais sobre determinadas informações acerca de elementos presentes no filme (como os biomas de florestas, gelo, etc) e o destino/presença de alguns dinossauros, são explicados lá.



Embora este material já causasse uma certa expectativa para o novo filme, a expectativa foi as alturas quando se revelou, oficialmente, o retorno do trio maravilha do primeiro Jurassic Park. A presença de Allan Grant (Sam Neill), Ellie Sattler (Laura Dern) e Ian Malcom (Jeff Goldblum) fez todos os fãs irem ao delírio. E nesse ponto, o filme faz jus e bom uso de tais personagens que não são meras participações no filme: são personagens presentes e importante durante todo o decorrer da história.

Tentarei aqui falar um pouco sobre o filme sem spoilers, pois sou adepta da importância de cada um ir assistir ao filme (se preciso, mais de uma vez) e tirar suas próprias conclusões.

Dominion se passa quatro anos após Fallen Kingdom e neste momento, os dinossauros estão coexistindo no mundo junto dos humanos e outras espécies. Óbvio que isso se mostra um problema e, de forma jornalística, é narrado o que isso está causando; desde acidentes violentos resultando em mortes até o crescente e perigosos mercado negro de tráfico de dinossauros para os mais variados fins. Assim, a empresa Biosyn se torna responsável para reter o controle dos dinossauros e buscar soluções efetivas e corretas para a situação. E aí entra uma das excelentes tacadas do filme: quem leu os livros de Michael Chricton sabe muito bem o que a Biosyn e seu comandante, Lewis Dogson, realmente querem. A inserção de uma corporação de poder mundial com um vilão humano extremamente tangível com nossa realidade atual mostra aqui a verdadeira mensagem de reflexão que a obra, em sua essência, sempre quis passar.

Porque, embora Jurassic Park (tanto os filmes como os livros) tenham dinossauros e aventura, ela é, em essência inicial, uma obra sobre o poder e os perigos da engenharia genética. Se no início as questões levantadas foram sobre o erro de trazer de volta espécies extintas, passando por alterações genéticas para criar novas espécies, agora o poder da manipulação genética e tecnologia é levado a consequências que sempre estiveram na essência de acontecer: o poder sendo detido por uma única empresa que então se vê na oportunidade e direito de direcioná-la como quiser unicamente para lucrar e dominar o mundo.

E isso é colocado em pauta no filme de forma excelente através dos enormes gafanhotos geneticamente modificados, algo que, se fosse possível, certas empresas já estariam fazendo (se já não fazem, mas de outras formas). Lewis Dogson sendo colocado aqui como um magnata do tipo bem conhecido hoje em dia (oi, Elon Musk, Jeff Besos e Mark Zuckenberg), com sua empresa repleta de "jovens brilhantes e gananciosos" que passa na mídia uma boa imagem enquanto seu único objetivo é lucro e controle. Há ainda uma introdução excelente ao mercado negro de dinossauros e seu uso para fins militares, que rende uma das melhores cenas de ação de todo o filme. 


Todo o elenco do filme está ótimo, cumprindo muito bem seus papéis. Sobre o "trio maravilha" não há o que se falar: é ótimo vê-los de volta em seus papéis mais icônicos e eles demonstram toda naturalidade e funcionamento juntos. Embora Ian e Grant sejam presentes e importantes, esse filme é mais de Ellie. Nada mais justo, afinal, Ian teve seu momento de protagonismo em Lost World e Grant em JP3. Há ainda Henry Wu, que aqui, carrega em si o peso de seu arrependimento e a busca por redenção.
 Chris Pratt está mediano, mas Bryce Dallas se mostra ainda melhor em seu papel. Sem dúvida, Claire é uma das melhores personagens da franquia, com todo seu arco de construção muito bem desenvolvido. Os personagens novos inseridos são todos ótimos. Desde a presença de Lewis Dogson (menos fdp do que o dos livros, mas um fdp digno para os dias atuais), passando por Ramsay (que nos faz querer saber ainda mais sobre ele e suas razões) até Kayla. Ah Kayla...que mulher maravilhosa! Interpretada pela lindíssima DeWanda Wisev, personagem cativante e com potencial, ela é uma excelente inserção. Ha também a misteriosa (e perigosa!) Soyona, que é responsável pela eletrizante sequência de perseguição em Malta e uma personagem que carrega o potencial de se explorar dinossauros para fins militares.
Não posso deixar de mencionar aqui também a Maisie Lockwood ( com ótima atuação de Isabella Sermon), a garota que é apresentada em FK como o primeiro clone humano. Em Dominion, sua existência é explicada e justificada,  sendo mais um dos delicados temas que o filme aborda (sem se aprofundar demais). 

O diretor Collin Trevorrow fez um bom filme, mesmo pecando em algumas partes. Há muito foco em coisas que poderia não ter para se focar em outras que se deveria ter. E a trilha sonora é muito morna e não desenvolve um clima nas cenas (ah se a trilha de JP/JW ficasse nas mãos de Rami Djawrdi, por exemplo...). E, embora o roteiro siga histórias separadas dos personagens centrais que depois vão se estreitando até todos se reunirem, há cortes meio bruscos e soluções que pareceram terem sido simplesmente "jogadas" ali.



Mas não tem dinossauros?
Tem. E muitos. Até em demasia, o que acaba prejudicando o tempo deles em tela, pois com alguns ficamos querendo ver muito mais e outros ficamos decepcionados por seus tempos na tela serem tão curtos. Mas eles estão todos lá, em CGI e também em animatrônicos. Aliás, o uso de ambas tecnologias juntas tem seus acertos, mas também seus erros ao decorrer do filme, mas são coisas que podemos relevar, afinal, todos os filmes da franquia possuem alguns problemas do tipo.

Falando nos dinos, algumas cenas ficaram ótimas. A cena da perseguição com os Atrociraptores em Malta por mais "filme de ação" que seja, ficou realmente boa e ali foram Raptores violentos e obstinados que realmente precisávamos ter. A apresentação do Therizinosaurus ficou excelente e o mesmo pode ser dito do Indoraptor. Este, embora tenha causado certas revolta entre os fãs, na verdade se estudarmos sobre aves aquáticas, faz sentido. E o bicho é LINDO com toda sua plumagem avermelhada. E o Dimetrodon é responsável por resgatar aquele toque de terror que gostaríamos de ver mais. E claro, há ainda o retorno do Dilophossauro. É com imensa satisfação vê-lo novamente (mas confesso que queria ter visto muito mais dele).

Porém, como todo filme, esse também possui suas falhas. O ritmo do filme que segue bom no início, acaba se tornando muito apressado da metade para o final, encurtando cenas de dinossauros que mereciam ser maiores. Não há aproveitamento de tudo que é jogado ali, muitos dinossauros são mostrados apenas rapidamente sendo que eles mereciam ter mais cenas. E o favoritismo pela Rexy está ficando cansativo. A batalha final não é nem perto de grandiosa (a final de Jurassic World foi melhor) e é nela, se me permitem o spoiler, que se fosse pelo menos colocado uma luta entre três grandes carnívoros faria todo mundo gritar no cinema. Era o momento de colocarem isso e não colocaram. Uma chance épica perdida.




Ao meu ver, o filme não ficou tão grandioso como pareceu que tinha sido vendido, por um motivo simples: pandemia.
É inegável que a pandemia de Covid que se iniciou em 2020 afetou e continua afetando (e provavelmente irá afetar por mais um tempo) literalmente todas as grandes produções do cinema e tv. São poucas as cenas gravadas com muitos personagens juntos, gravadas em locais públicos e com maior interação. Senti que, a ideia inicial do filme era realmente mostrar os dinossauros espalhados pelo mundo e as consequências disso no meio de locais públicos e com grande concentração de pessoas. Mas devido a pandemia, o filme não pôde ser gravado em certos locais ou com muitas pessoas, e, no fim, o que mais vemos é o filme limitando seus personagens em um pequeno grupo. Então, o que poderia ser um filme quase todo sendo passado em um lugar mais amplo, transcorreu em um local com o mínimo de gente possível. Se esperávamos muita cena de dinossauros na cidade, tivemos muita cena de dinossauros em uma "ilha".

Mas, antes de ser tomado pela insatisfação momentânea que é normal pairar quando os créditos do filme começam a passar na tela, e mesmo antes de já corrermos para as redes sociais desabafar opiniões no calor do momento, é preciso fazer algo que, atualmente, parece que as pessoas estão esquecendo de fazer: refletir.

Refletir sobre o que assistiu, analisar os pontos que se gostou e não gostou e verificar, também, a questão da produção como um todo. Com base nisso é possível fazer uma análise mais imparcial, compreensiva e justa da obra. O que Dominion traz é um leque de enredos para se abordar em histórias ótimas se forem bem construídas. Afinal, os dinossauros foram soltos no mundo há poucos anos, mas daqui mais alguns anos, o quão caótico o mundo vai estar coexistindo com eles?





Embora o filme termine como se tudo estivesse em paz, é uma paz que, ele também mostra, ao longo do filme, ser inviável. Haverá um impacto ambiental perigoso dos dinossauros com as outras espécies, seja na alimentação e também em doenças que podem surgir. Haverá um mercado negro traficando e maltratando dinossauros para lucro e prazer próprio, como mostrado no subsolo de Malta. Haverá grupos militares extremistas e governos utilizando dinossauros controlados como armas de guerra (como também mostrado em Malta). Haverá pessoas querendo ter dinossauros como pets ou criando como animais de fazenda capaz de gerar consequências imprevisíveis. Haverá  empresas se apropriando da genética para manipulá-la e alterá-la a ponto de colocar a vida e a economia do planeta em colapso. Haverá tantas possibilidades que o caos está ali, prestes a se instaurar..

Jurassic World Dominion não é o melhor filme da franquia, mas também não é o pior. Ele possui seus erros e acertos como todos os filmes anteriores e como todo e qualquer filme, jamais será capaz de agradar ou desagradar a todos. Ele carrega muita opção de enredo, dinossauros e personagens para se mostrar e aprofundar porém, não consegue fazer isso totalmente, o que reforça a ideia de que, embora tenha sido vendido como um "final" não é, nem de longe um final e sim um novo início com infinitas possibilidades. Talvez não para os personagens mais clássicos da franquia, mas abre a possibilidade para os novos apresentados e até os que podem vir (ou talvez, alguns antigos que podem retornar?).




 É um bom filme, um filme que entretém, causa nostalgia com suas inúmeras referências aos filmes anteriores, com um visual bacana (infelizmente um pouco escuro demais no ápice que não é ápice), com cenas empolgantes, que agrada os fãs antigos e conquista os fãs novos e com uma bela homenagem até mesmo a Michael Crichton. O tipo de filme que deve e merece ser visto no cinema.

Ficamos então, na espera, daqui alguns anos, de uma nova produção. Afinal, o que Dominion deixou não foi uma conclusão: foi a chance de novos começos, novas abordagens e inúmeras possibilidades que podem ser deliciosamente interessantes para se trabalhar. A franquia segue mais viva do que nunca!

~*~


Comente com o Facebook:

Nenhum comentário:

Postar um comentário