10/01/2022

O Poder de Encanto

 



O novo longa animado da Disney chegou arrebentando. Se tornando sucesso entre público e crítica, Encanto tem aquecido e movimentado as redes sociais nas últimas semanas. A quantidade de pessoas comentando sobre ele, elegendo seus personagens favoritos, fazendo fanarts, tirinhas e memes, reproduzindo as canções e criando debates sobre cada personagem na internet é algo que não víamos com tal intensidade há um bom tempo com relação a produções animadas da Disney.

Da leva atual das animações Disney, Encanto foi, de longe, a melhor animação no quesito roteiro funcional. Digo funcional porque Encanto carrega tudo o que é necessário em uma boa animação disney para ficar na memória do público, mesmo não sendo uma produção com desfechos épicos.

Diferente de Frozen 2 que contou com um grande trabalho de marketing com mais de ano de lançamento, Encanto só recebeu um pouco a mais de divulgação que Raya (este cujo maior problema foi ter sido lançado no Disney Plus com um valor a mais que a assinatura do streamming e bem no período mais difícil da pandemia) o que poderia tê-lo colocado no rápido esquecimento. Mas o sucesso da história vem conquistando crianças, jovens e adultos e o marketing sobre a animação tem ganhado uma força notável nas redes sociais. Desde o primeiro Frozen que não se via a comunidade de desenhistas na internet tão ativa com uma produção do estúdio.

Encanto tem um roteiro bem feito e, mesmo que contenha algumas falhas, ele possui uma boa construção e desenvolvimento (o que não aconteceu com Frozen 2). A obra consegue passar a mesma mensagem e reflexão para o público de todas as faixas etárias de uma forma simples mas emocional.  Também inseriu não apenas um, mas vários personagens carismáticos que facilmente se tornam preferidos e memoráveis. E por fim, Encanto tem uma protagonista que causa uma identificação imediata com o público além de pertencer a uma obra recheada de canções (coisa que, embora Raya seja uma protagonista interessante e tenha uma bela animação, não conseguiu).



Aliás, precisamos falar das músicas de Encanto.
Após o primeiro Frozen, a Disney não tinha uma animação cujas músicas fossem tão envolventes e se tornassem verdadeiros hinos repetidos sem cansar. A trilha sonora de Encanto é, com certeza, uma das melhores da Disney. O estilo latino das melodias, as letras que contam sobre histórias e sentimentos, ensinam e cativam. E a produção teve ainda a proeza de não ter apenas uma música icônica com potencial de ficar no topo das paradas e sim várias!

Desde o Let it Go não se via algo assim.. E ao lado do sucesso de Elsa, parece que teremos não uma música da protagonista Mirabel, mas sim sobre o tio dela. Afinal, quem aqui já não está cantarolando  "We Don't Talk About Bruno"? A música já figura entre as 50 mais ouvidas nos EUA e esse ranking tende a subir.
Mas não é somente essa música. O hino da personagem Luisa (mais uma das personagens preferidas da animação) agradou boa parte do público tanto por ela ser uma personagem fora dos padrões convencionais quanto por sua letra na qual tanta gente se identificou. E, embora em menor quantidade mas ainda assim relevante, estão as músicas solo de Mirabel e a canção de sua irmã Isabela que causam muita identificação no público. Para finalizar, temos a música Dos Oruguritas, toda cantada em seu idioma original e que possui uma sensibilidade encantadora.

Outro ponto técnico de Encanto é a beleza de sua animação. A paleta de cores é fantástica: visualmente é muito bonito, as cores são vivas e durante as músicas criam um contraste que é um verdadeiro deleite animado para os olhos. Mesmo nos momentos mais densos, a paleta de cores é envolvente e nos momentos mais alegres é vibrante.
E há representatividade. É lindo ver a disney colocando cada vez mais uma variedade étnica maior em suas obras. Encanto é uma prova de que os produtores estão aprendendo o quão importante isso é para o público e para a sociedade.


Seria Bruno o novo queridinho dos fãs disney? Tudo indica que sim.


Mas sobre o que fala Encanto?

Resumidamente, Encanto conta a história dos Madrigal, uma família extraordinária que vive escondida nas montanhas da Colômbia, em uma casa mágica, no centro de uma graciosa cidade localizada em um lugar conhecido como Encanto. A magia deste Encanto abençoou todos os meninos e meninas da família com um dom único, desde superforça até o poder de curar. Todos, exceto Mirabel. Mas, quando ela descobre que a magia que cerca o Encanto está em perigo, Mirabel decide que ela, a única Madrigal sem poderes mágicos, pode ser a última esperança de sua família excepcional.

Essa é a sinopse básica de Encanto, mas basta começar a assistir para ver que, como toda boa obra da Disney, a história é muito mais do que isso.
Encanto é uma história sobre família. Mas especificamente sobre o julgamento e a pressão familiar. É praticamente impossível não se identificar e refletir sobre as abordagens e os personagens ali. A situação de Mirabel que, por não ter um dom fantástico se sente inferiorizada e acaba sendo ignorada e menosprezada pela família; a pressão que Luisa e Isabela são constantemente submetidas para manterem a postura e capacidade de serem perfeitas em suas funções; a instabilidade emocional de tia Pepa por conta de seu poder, o descaso com que a família tratou tio Bruno por ele não condizer com as expectativas que se esperavam dele e etc.
Não há ninguém que não tenha se sentido tocado, se identificado ou identificado alguém que passasse por situações de cobrança e comparativo dentro do próprio ambiente familiar.

Em Encanto, não há vilão, mas há uma reflexão sobre a toxicidade familiar mesmo dentro de um ambiente em que todos se gostam. Há as consequências de erros feitos por medo, há libertação de amarras criadas por expectativas impostas e é muito importante que isso esteja finalmente sendo abordado em uma obra Disney. Estamos em uma época que as pessoas querem e precisam falar sobre o que sentem e que isso deve ser dividido. Além do que, em uma geração tão fragilizada emocionalmente devido a comparativos, lembrar sempre que cada um é especial do jeito que é, é de extrema importância.



Apesar de inúmeros aspectos positivos, Encanto não está isento de falhas. Alguns problemas de roteiro no aprofundamento de certas questões e aspectos dos personagens, a rápida resolução de um conflito que vem de anos e, para alguns, a representatividade - mesmo que a obra tenha sido um verdadeiro avanço do estúdio ao trazer personagens de diversas etnias dentro de uma família latina.
Mas ao meu ver e com base na recepção positiva do público, as falhas de Encanto se tornam menores se comparada com seus acertos. Não que as falhas devam ser ignoradas: elas devem ser mostradas e debatidas de forma - se atentemos nisso - inteiramente imparcial para que assim a análise seja contundente. Infelizmente muitas pessoas tem mostrado uma dificuldade em compreender isso (ou compreende mas prefere ignorar).  É preciso termos em mente que Encanto, por mais que tenha brechas para aprofundamentos e permita um debate e uma reflexão, ainda é uma obra criada inicial e principalmente para o público infantil.

Encanto parece ser o acertado resultado final que a Disney obteve após uma pequena (mas notável) sucessão de animações anteriores que embora sejam boas individualmente em diversos sentidos, não conseguiram carregar aquela magia única das produções do estúdio que são capazes de se imortalizarem por décadas e se consagrarem não apenas em produtos, mas no imaginário do público.
A obra é mais uma dessa nova tendência do estúdio de não possuir vilões. Ainda que muitos sintam falta de histórias com vilões como os clássicos que tanto marcaram e se imortalizaram nas histórias, não dá para negar que a ideia de conflitos a serem resolvidos entre pessoas que convivem entre si e falar sobre amadurecimento interior tem sua importância e necessidade.

 Esperemos que Encanto marque a Nova Era dos estúdios. Pois carrega elementos que são verdadeiros marcos da disney, como personagens cativantes, entretenimento agradável, músicas memoráveis, entretenimento e uma bela mensagem. Mas além disso, ela carrega uma perspectiva mais condizente com as novas gerações, abordando temas sobre família, representatividade, crescimento anterior e que podemos e devemos falar sobre o que sentimos e que sejamos capazes também de ouvir e compreender o que aqueles ao nosso redor tem para dizer sobre o que sentem.

Encanto nos encanta porque nos mostra que todos possuem o dom de serem especiais exatamente como são.

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