24/01/2020

O Congresso Futurista - crítica




por Lita


Robin Wright é uma atriz de 44 anos com um casal de filhos adolescentes, Aaron e Sarah, e mora nos limites de um terreno em frente a um aeroporto. Seu filho mais novo, Aaron, ama aviação e tem uma doença que limita seus sentidos, algo que vem desde muito novo e com a qual sua mãe teve que aprender a lidar com o tempo, e em meio a seus projetos.


Encontramos Robin num momento em que sua carreira está praticamente inexistente após muitos anos atuando em filmes, em meio a uma conversa com seu agente Al sobre uma misteriosa proposta feita de forma “urgente”, oferecida como o último contrato que a atriz precisaria assinar na vida.  Feita pela Miramount (uma clara referência a Miramax e Paramount, gigantes do cinema), se trata de uma inovação tecnológica: a possibilidade de digitalizar a pessoa, e trazê-la para qualquer obra, sem a necessidade da pessoa estar presente (ou consciente de sua participação naquilo). Nisso, uma decisão precisa ser tomada, ser jovem e ativa no cinema eternamente através da tecnologia, mesmo não podendo nunca mais atuar de nenhuma forma, ou negar a proposta e viver com as consequências de uma carreira decadente e sem previsões de novos projetos?

20 anos depois, temos uma Robin dirigindo um lindo conversível rumo a um evento chamado de Congresso Futurista. Após fazer uso de uma ampola com líquido rosa ainda no posto de segurança a caminho do evento, temos o aviso e o início de uma parte totalmente em animação, que a leva a uma “viagem louca de ácido” num estilo bem característico de desenhos animados dos anos 30/40 (chamados de estilo Inkblot, primeiro estilo de animação, ainda da era do cinema mudo e do preto e branco), olhos ovalados com um corte em triângulo (pie eye), corpos alongados e “molengas”, sem juntas visíveis (estilo Rubber Hose) e feições bem caricatas, em especial de animações tipo Betty Boop, O Gato Félix e até das primeiras animações da Disney, misturado com a psicodelia dos anos 60/70

Chegando a seu destino no Hotel Miramount num ambiente maluco e de visão futurista, vemos outras pessoas mudando de forma, seja para mais novas, seja pra uma celebridade, e voltando a seu estado original com o simples uso de uma ampola, como a que Robin usou anteriormente. Aparentemente não muito feliz, a atriz entra em conflito pessoal em relação à renovação de seu contrato.

“No final, tudo faz sentido e tudo está em sua mente. O que gostaria de pedir, Srta. Wright?”
“Está tudo em nossas mentes, se está vendo escuro, é porque escolheu escuro.”

                                                                                       

A mega empresa, chamada agora Miramount Nagasaki, possui novos e inovadores planos, jamais imaginados antes para a indústria da sétima arte. Após Robin discursar no palco do Congresso, um ataque acontece no prédio da empresa e uma confusão começa. Um estranho ajuda Robin numa fuga e vemos que se trata de um artista gráfico, o mesmo que trabalhou em todas as obras feitas com ela nos 20 anos após a assinatura do contrato.

A partir daí o filme começa a ficar cada vez mais confuso. Não sabemos o que é real e o que é apenas a animação, que começa a ter reviravoltas diversas e cumina num final improvável, muitos anos no futuro.

O filme segue o estilo híbrido já conhecido de outros como Uma Cilada Para Roger Rabbit, misturando cenas reais com animação em vários estilos. Alguns momentos são em Inkblot, outros em pintura digital, mas num geral pode ser visto um estilo bem surrealista, talvez uma inspiração mais forte do psicodelismo dos anos 60 e 70.

Há a aparição de diversas celebridades, fruto da imaginação de pessoas diversas (rola um plot-twist nas cenas finais quando vemos quem são essas pessoas), tais como Frida Kahlo, Marilyn Monroe, Michael Jackson, Tom Cruise, entre outros. A protagonista é a própria atriz Robin Wright, famosa por ter feito A Princesa Prometida, Forrest Gump e House of Cards, com algumas citações de sua vida real, mas várias que são apenas parte do roteiro do filme. Outros atores que participaram da produção de Ari Folman (o mesmo de Valsa com Bashir), são Danny Houston como Jeff, empresário e dono da Miramount; Harvey Keitel, o agente Al; Sami Gyale, a filha Sarah; Kodi Smith Mcphee, o filho Aaron, entre outros.



É um filme que mistura ficção científica e drama, e traz reflexões e críticas, tal como a vida de atrizes na meia idade e o futuro de suas carreiras dentro do mercado cinematográfico, o rápido avanço da tecnologia, a substituição de trabalhadores reais por inovações tecnológicas, o poder de grandes corporações, o consumo, e o rumo da humanidade com tudo isso. Como as pessoas vão lidar com inovações? O que será criado num mundo onde tudo imaginado como possível, já existe? O que vai ser considerado normal? Há um limite real para onde e o que podemos alcançar?
           
Num geral, pode ser algo que não agrade qualquer pessoa, pelo próprio estilo híbrido. Achei particularmente confuso, mas é bem trabalhado visualmente, e num geral, bastante original.

Adaptação livre da obra The Futurlogical Congress, do escritor Stanislaw Lem, é um filme de 2013 que num geral, teve boas críticas, talvez um pouco medianas (3 estrelas de 5 no IMDB). Está disponível pela Amazon Prime.



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Um comentário:

  1. Uma resenha bem-feita e que gera curiosidade. Nunca havia ouvido falar deste filme, mas a proposta parece bem... "psicodélica", ahaha. Assim que puder irei conferir.
    Até mais!

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